Ocres & Terras

Ocre, do Grego antigo ὤχρα / ốkhra, é uma rocha férrica composta de argila pura (caolinite) colorida por pigmento de origem mineral (hidróxido de ferro: hematite para o vermelho, limonite para o castanho e goetite para o amarelo).  Esta argila colorida está misturada com areia (quartzo). Estas areias de ocres estão na composição dos solos onde geralmente existe mais de 80% de quartzo.

Em  Portugal,  existe na região centro uma exploração de ocres de onde se extraem alguns  pigmentos  naturais. Porém, com a produção de pigmentos de sintese e a tendência para recorrer a tintas em vez de cal para as pinturas e acabamentos, suponho que esta actividade seja mais uma a ter os dias contados. 

O ocre natural é utilizado como pigmento  desde a Pré-História. Em Portugal, como nos países do sul, os ocres continuam a usar-se. Entre as diversas vantagens desses pigmentos destacam-se a permeabilidade ao vapor de água, a longevidade das pintura  (caiações), a ausência de toxicidade e aspectos estéticos / decorativos. Acresce que os ocres de terras mais usados são, geralmente, muito mais baratos do que qualquer tinta, mesmo com o valor da cal adicionado. Para além do uso na construção, renovação e restauro, os ocres são também apreciados em Belas Artes.

 

Escolha dos pigmentos

Entre as centenas de pigmentos que podemos encontrar no mercado só os de origem mineral são totalmente compatíveis com a cal. Pese embora o facto de alguns pigmentos sintéticos demonstrarem compatibilidade com a cal, recomenda-se que se façam sempre pequenos ensaios. Evitaremos assim algumas surpresas desagradáveis.

Existem fundamentalmente duas famílias de pigmentos:

- Os pigmentos extraídos de minerais naturais, são os que chamamos "Terras" ou "Ocres". Na realidade, trata-se de óxidos de ferro que se fixam na argila. Um dos mais famosos, conhecido pela beleza que confere aos rebocos das casas Italianas é a "Terra de Siena". No entanto, esta denominação não implica necessariamente que essa terra tenha de vir de Siena, na Toscania. A tonalidade em questão pode variar entre o amarelo e o castanho e é obtida a partir da mistura de argila e óxido de ferro. Em Portugal também temos "Terra de Siena"!

- A segunda família diz respeito aos Óxidos. Trata-se de pigmentos sintéticos obtidos através da reacção química dos metais como o cobre (cor verde ou azul), o ferro (amarelo, laranja, vermelho...), o crómio (verde), o cobalto (azul)...

- Há ainda outra família de pigmentos - os Orgânicos - extraídos de vegetais ou animais. Estes não devem ser usados em bio-construção porque não resistem aos ambientes alcalinos. Esta família de pigmentos destina-se principalmente à indústria têxtil.

É verdade que os ocres têm menos poder colorante quando comparados com os óxidos mas, em contrapartida, os tons dos ocres são luminosos e é possível compor cores fazendo misturas a seco. Os pigmentos naturais resistem à radiação solar, aos ácidos e bases. Por outro lado, os oxídos de síntese, quando misturados com cal, têm o inconveniente de mudar ligeiramente de tonalidade.  

 

Faça alguns ensaios

Antes de se lançar na aventura da primeira caiação a cores, faça alguma experiências. A afinação de cor num leite de cal não é tão evidente como na afinação de tintas. Note que o tom da cal preparada com pigmentos enquanto a caiação estiver fresca é muito diferente da cor final após a secagem da pintura. Faça algumas amostras sobre pedaços de gesso e espere pela secagem. Assim que conseguir o seu tom, tome nota da percentagem de pigmento. Esta será a única forma de garantir que consegue repetir aproximadamente essa cor. Por outro lado, é bom pensar  fazer a sua cal colorida de uma só vez, isto é, na quantidade necessária para tudo o que pretende caiar. Se tiver de preparar a cal por diversas vezes, aumenta o risco de não ficar com todas as superfíces no mesmo tom.

 

A história que conhecemos do Ocre

  1.    380.000 A.C. - Em Terra Amata (actual Nice) terão sido usados lápis de ocre para pintura corporal
  2.    350.000 A.C. - Transformação do ocre amarelo em vermelho (por cozedura)
  3.    100.000 A.C. - Presença de ocre numa sepultura (Qafzeh) na Palestina
  4.    80.000 A.C. - Generaliza-se o uso do ocre em contexto funerário 
  5.    37.000 A.C. - Primeiras pinturas murais (Castel Merle)
  6.    29.000 A.C. - Primeiras pinturas em cerámica (Morávia)
  7.    25.000 A.C. - Primeiras pinturas em sepulturas (Vênus Pré-históricas)
  8.    3.000 A.C. - Utilização do ocre com função decorativa na Arquitectura (Iraque, Egipto...)
  9.    2.500 A.C. - Antigo Egipto: escritos, pinturas, túmulos, cosméticos, couros, tecidos e medicamentos
  10.    800 A.C. - Grécia e Roma Antigas: frescos, coloração de estátuas e cerâmicas
  11.    476 a 1492 - Idade Média: frescos religiosos e de ornamento, imagens
  12.   1830 a 1880 - Primeiro período industrial do ocre
  13.   1834 - Descoberta do processo de vulcanalização da borracha nos Estados Unidos
  14.   1880 a 1930 - Segundo período industrial do ocre
  15.   1919 - Crise política: baixa das exportações
  16.   1925 - Crise técnica: síntese dos ocres
  17.   1929 - Crise económica: apogeu da indústria do ocre e início do declínio
  18.   Pós-guerra - Generalização dos produtos sintéticos

 

Sabia que...

O ocre deu cor aos pneus de bicicletas e às salsichas de Strasbourgo!

O homem desenha e decora com ocre desde a Pré-HYistória!

É necessário 1 m3 de mineral e 100 l de água para produzir 1 kg de ocre!

Misturar queijo fresco com ocre ajuda a fixar a caiação!

 

Ocres e terras no mundo

Explorações activas (2013): Estados Unidos, Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Itália, Grécia, Suécia, Russia, Irão, India e África do Sul 

Explorações abandonadas:  Canadá, Sardenha, Itália, Alemanha

Presença de ocres sem exploração:     Brasil, Argentina, Senegal, Mali, Marocos, Argélia, Nigéria, Costa do Marfim, Congo, Kénia, Namíbia, Madagascar, Austrália, China e Mongólia

 

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