Rebocos
Rebocos de Cal
-
Diferentes tipos de Cal - Infelizmente reina frequentemente a confusão entre os diversos actores dos processos da cal. Hoje, raros são os revendedores de materiais de construção que conhecem as diferenças das diversas cais. Mas Pior é quando nem os aplicadores sabem distingir e tão pouco são conhecedores das características de cada uma das cais (ainda) disponiveis no mercado. Porém se nos detivermos nas designações "Cal Aérea" ou "Cal Hidráulica" e reflectirmos um pouco percebemos que esses nomes esclaressem de imediato os dois principais grupos de cal. As palavras "Aérea" e a "Hidráulica" referen-se ao tipo de presa (secagem e endurecimento). A cal aérea faz presa pela acção do ar, mais exactamente fixando o gás carbono do ar. Por outro lado, a cal hidráulica faz presa maioritariamente pela acção da água, e é graças ao contacto com esta que endurece. Uma cal aérea de elevada pureza (sem argila nem silicio), faz a presa muito lentamente absorvendo o gás carbónico do ar. A este fenómeno chama-se carbonatação. Atendendo a que a quantidade de carbono no ar é limitada, a presa da cal aérea é necessáriamente muito lenta. Ao contrário, a presença da água na cal hidráulica torna a presa relativamente rápida.
-
As especificidades de cada obra ditam geralmente as opções das cais. A resitência mecânica, versus tempos de presa são geralmente factores decisivos. Porém pretenções estéticas (aparência dos paramentos) podem também condicionar a escolha.
-
Vale a pena retermos que há várias diferenças físicas ligadas aos tipos de cais. Fundamentalmente e de forma simplista, podemos dizer que quanto mais pura for a cal, menos hidráulica é. As cais mais puras são geralmente produzidas a partir de calcários com menos 5% de argila. Estas são as cais aéreas. As cais menos puras tém geralmente mais de 5% de argila. São as cais hidráulicas. Geralmente a cal hiráulica pode apresentar teores de argila entre os 5% e os 30%. Quanto mais argila o calcário tiver mais hidráulica será a cal. As principais características que diferenciam estes dois grupos de cais (mesmo para quem não tem experiência) são o péso e a cor. A cal aérea é muito mais leve que a cal hidráulica. A cal aérea é branca e a cal hidráulica é cinza.
-
As diferentes cais são marcadas segundo normas definidas. As letras CL (Calcic Lime) referem-se à cal aérea. Os números que aparecem após o CL, 70, 80 ou 90 indicam o teor de óxido de calcio. A CL-90 é proveniente de um calcário mais puro do que o da CL-80; Por outro lado, quanto mais pura é a cal, menos hidráulica é.
-
As letras NHL (Natural Hidraulic Lime) designam a cal hidráulica natural, geralmente extraída de calcário com teores de argila entre os 5% e os 30%. Os números 2, 3.5 e 5 informam o índice de resistência da cal hidráulica natural. Quanto menor for o número, menor será a resistência da cal. Assim a NHL 3,5 tem uma resistência física inferior à NHL 5.
-
Apesar da presa da cal hidráulica ser maioritáriamente assegurada pela água, há ainda assim uma parte do endurecimento dependente da carbonatação. Esta última é bem mais lenta e faz-se apenas pelo contacto do ar.
-
ATENÇÃO - Importa reter que não devemos confundir as designações de NHL com HL, que na realidade é um cimento. Por outro lado as letras NHL-Z referem-se a cal hidráulica natural com aditivos pozelânicos adicionados. Este últimos destinam-se sobretudo a encurtar o tempo de presa e a aumentar a rigidez do reboco.
-
As vantagens e desvantagens da Cal - A cal é um material fantástico! Bactericida e anticéptica a cal é também fungicida; O seu uso tem desde tempos remotos demonstrado uma grande capacidade para garantir ambientes saudáveis, tanto na habitação como nas instalações agropecuárias, mantendo longe insectos e fungos.
-
A longevidade de um reboco de cal é notável! Um reboco bem doseado e aplicado, pode manter-se mais de um século. A expresão bem conhecida "Está de Pedra e Cal" cujo significado remete para algo bem sólido e difícil de derubar, não aparece por acaso. De facto há uma analogia com os muros de pedra argamassados com cal. Em muitos casos quando a pedra é calcária a carbonatação promove ao longo dos anos uma homogenidade mecânica e química que fazem da pedra e da cal uma só matéria, comportando-se como uma rocha única.
-
Qualidades específicas da Cal Aérea - Para além das vantagéns "domesticas" inerentes a todo o tipo de cais naturais, a cal aérea apresenta uma compatibilidade química total com os outros materiais de bioconstrução. Se adicionarmos a uma argamassa de cal aérea gesso ou terra, as suas características não serão alteradas; Simplesmente alteraremos o tempo de presa, reduzindo-o em função das quantidades adicionadas. Nalgumas situações esta redução do tempo de presa pode ser interesante.
-
A cal aérea aceita praticamente todo o tipo de águas, exepção feita às águas salgadas. Esta compatibilidade excepcional é também responsável por uma predominância do uso deste material na Arquitectura vernacular, onde os recurso obrigavam a uma constante adaptação aos recursos locais de cada obra.. , porém não conheço nada perfeito! Assim, a nossa cal também tem o seu Calcanhar de Aquiles...
Rebocos de Gesso
Rebocos de Terra
Rebocos Isolantes
Generalidades na composição de rebocos naturais
Praticamente todas as argamassas (rebocos) são compostas por um ligante (cal, terra, cimento) com função aglutinadora, misturado com água e inertes (agregados, cargas, areias). Para além destes componentes básicos indispensáveis a praticamente todas as argamassas, veremos adiante a funcionalidade de outros produtos capazes de ajudar a melhorar algumas características dos rebocos.
Ligante
Os ligantes mais usuais em rebocos naturais são as cais e as terras.
A cal aérea, em pó ou em pasta (CL 90), é certamente uma opção a privilegiar, sobretudo se pretendermos o branco ou tons claros como acabamento. Para além de ser um ligante translúcido ou com algum nível de transparência, evidenciando os inertes envolvidos, é permeável ao vapor de água, comportando-se como uma pele porosa dos paramentos (paredes), deixando dessa forma os edifícios "respirar".
A terra também é uma boa opção, desde que aceitemos o seu aspecto rústico e tons naturais. No entanto, requer alguns cuidados ao nível do projecto de Arquitectura, sobretudo quando usada em rebocos no exterior. Pessoalmente, acho que podemos fazer rebocos de terra muito estéticos, podendo assumir até um toque especial em projectos de Arquitectura contemporânea.
O cimento é um ligante que não deve ser considerado nos revestimentos da bioconstrução. É mecanicamente inadequado. A sua rigidez não é compatível com as estruturas de edificios naturais, de madeira, palha, pedra, terra, etc. Por outro lado, o cimento é reponsável por muitas patologias da habitação: casas revestidas a cimento não respiram, a condensação está quase sempre patente, desenvolvem-se facilmente micro-ambientes propícios ao aparecimento de micro-organismos. As eflorescências e salitres são muito comuns em rebocos de cimento e certamente que os sulfatos dos cimentos não serão alheios ao problema, pese embora o facto das origens dessas patologias poderem ser diversas. Do ponto de vista estético/decorativo, pode ainda dizer-se que o cimento está longe de ser a melhor opção. De facto, o cimento "esconde" e "mata" a beleza dos tons dos inertes usados nas argamassas e "engole" os tons de qualquer pigmento. Porém, o cimento pode ser útil no uso de alguns tipos de fundações, mesmo em bio-construção.
Água
A água a usar para as argamassas deve ser limpa, cristalina, sem cheiro e/ou vestígios de qualquer elemento estranho. Águas salobras também não devem ser usadas. A água não deverá conter impurezas, particularmente sais nocivos e matéria orgânica em quantidades tais que podem afectar as propriedades das argamassas.
Cargas e Agregados
Nos rebocos de cal denominam-se agregados os inertes que compõem as argamassas. Nos rebocos de acabamento (decorativcos) de cal chamam-se cargas aos inerte que têm neste caso granulometrias diferentes.
Areias
São como o esqueleto das argamassas. A areia é em boa parte responsável pelo aspecto e qualidade do reboco. A escolha das areias e da sua granulometria deve ser efectuada em função da cor, do tamanho e da forma dos agregados usados na argamassa:
- Areia grossa: granulometria de 1,25 a 5 mm;
- Areia média: granulometria entre 0,315 a 1,25 mm
- Areia fina: granulometria de 0,08 a 0,315
- Areia pó: granulometria de 0 a 0,06 mm
Finos
Os finos são particulas presentes em areias que não foram lavadas, Contéem elementos de dimensão inferior a 8 micron. A sua granolometria pode ir de 0 a 0,08 mm.
Argilas
Dão cor aos rebocos e melhoram a sua plasticidade. São também um retentor de água. Também são um ligante quando misturadas com inertes e água. A sua granulometria é inferior a 0,02 mm.
Pozolanas naturais
Trata-se de cinzas volcânicas que existem em várias regiões. Na Europa há pozolanas naturais em Itália, Grécia, França, etc. Provavelmente nos Açores também haverá.
Pozolanas artificiais
São argilas cozidas (tijolos, telhas e escórias de alto forno). Quando incorporadas nas argamassas de Cal, conferem às mesmas características hidraulicas, ganhando resistência mecânica, mas reduzindo também a sua permeabilidade ao vapor de água.
Pós de mármore
É um calcário duro, carbonato de cálcio, geralmente muito branco. A sua dureza e brancura é muito interessante para rebocos, estuques e pinturas.
Existem pós de mármore coloridos: verdes, pretos, rosas, etc.
Os pós de mármore também se distingem pela sua granulometria:
- Pó de mármore branco fino, impalpável;
- Pó de mármore médio, com uma granulometria entre 0 a 0,06 mm;
Pó de mármore grosso, com uma granulometria entre 0,6 a 1,25 mm.
Pó de pedra
Geralmente usado nos estuques de pedra.
Tijolo moído
Trata-se de terra cozida esmagada ou moída, geralmente de granulometrias entre 0 a 5 mm. Provém de fábricas de tijolo e telhas. É utilizada nas argamassas de cal aérea pelas suas propriedades pozolânicas. As suas características hidráulicas e hidrófugas ajudam também a reduzir a formação de salitres.
Talco e caulino
São silicatos de magnésio hidratados. Apresentam-se em forma de pó impalpável. O escoregamento da sua estrutura lamelar flexibiliza e suaviza as argamassas melhorando a sua aplicabilidade.
Pigmentos
São pós secos e coloridos. Os pigmentos para usar com a cal são limitados já que devem resistir aos meios alcalinos. São geralmente Ocres, Terras e alguns Óxidos.
São usados pela sua opacidade quando misturados a leites de cal e rebocos. Comportam-se como qualquer carga e devem-se assim considerar, sobretudo quando usados em grande quantidade.
Existem fundamentalmente duas familias de pigmentos:
- Os pigmentos extraídos de minerais naturais, são os que chamamos "Terras" ou "Ocres". Na realidade trata-se de oxidos de ferro que se fixam na argila. Um dos mais famosos, conhecido pela beleza que confere aos rebocos das casas Italianas é a "Terra de Siena". No entanto esta denominação não implica necessáriamente que essa terra tenha de vir de Siena na Toscania. A tonalidade em questão pode variar entre o amarelo e o castanho e é obtido a partir da mistura de argila e oxido de ferro. Em Portugal também temos "Terra de Siena"!
- A segunda família diz respeito aos óxidos, trata-se de pigmentos sintéticos obtidos através da reacção química dos metais como o cobre (cor verde ou azul), o ferro (amarelo, laranja, vermelho...), o cromium (verde), o cobalto (azul)...
- Há ainda outra família de pigmentos. Os organicos extraídos de vegetais ou animais, não devem ser usados em bio-construção porque não resistem aos ambientes alcalinos. Esta familia de pigmentos destina-se principalmente à industria têxtil.
Giz
O Giz é um calcário macio, ou carbonato de calcio branco creme. O giz pode ser usado como carga no gesso, nos leites de cal ou nos rebocos.
Aditivos
São os productos que adicionamos para melhorar algumas características dos rebocos. Usados em quatidades moderadas permitem:
- Facilitar a aplicação;
- Aumentar a aderência;
- Reduzir ou aumentar o tempo da presa;
- Melhorar a dispersão dos pigmentos;
Agentes molhantes
São substâncias que adicionamos com a finalidade de diminuir a tensão superficial na interface sólido/líquido. Melhoram a mistura da água com as cargas e os ligantes, assegurando uma melhor dispersão dos vários componentes, promovendo simultâneamente uma melhor aderência ao suporte. Podemos usar como agente molhante o Sabão Negro líquido, em pasta ou outros sabões.
Retentores de Água
O Metilcelulose (cola para papel de parede) é um bom retentor de água, capaz de retardar os processos de secagem. O metilcelulose pode ser usado nos leites de cal e nos rebocos, retendo assim a sua humidade, promovendo uma secagem mais lenta e consequentemente aumentando o tempo em que se pode trabalhar.
Fixadores
Há felizmente muitas opções de fixadores, a saber:
- Caseína: é um fixador natural, ligante colante e fluidificante;
- Leite desnatado: é um fixador natural, ligante colante e fluidificante;
- Ovo: é um fixador natural, ligante colante e aglutinante;
- Colas: Colas animal;
- Resinas naturais: o latex é um fixador natural;
- Resinas sintéticas: Acetato de vinilo (cola branca), resinas acrilicas, fixadores sintéticos;
- Alumen de potassa natural, promove a carbonatação da cal e facilita a fixação das cores.
Conservadores
Podem ser químicos ou naturais, como o óleo de cravinho.
Silicatos
Os silicatos como o talco ou caulino, facilitam a aplicação das argamassas, melhorando simultâneamente as características mecânicas das mesmas.
Agregados Isolantes
Cânhamo
Cortiça
Portugal é responsável por cerca de 50% da produção de cortiça mundial! Assim, apesar da cortiça ser hoje uma matéria nobre de custo elevado, a sua relação qualidade/preço justificam amplamente a opção da cortiça em bio-construção.
A cortiça é um excelente isolante (témico e acústico) e pode ser usado de diversas formas na construção sustentável. A mais comum são as placas de aglomerado de cortiça expandida. Para além de muitos produtos técnicos que as fábricas têm vindo a desenvolver há um sub-produto ao qual se liga pouco e que no entanto pode fazer uma enorme diferença quando usado nos rebocos interiores e exteriores. Refiro-me ao granulado de cortiça. Com granulometrias de 0,8 a 8mm e densidades compreendidas entre 45 e 180 kgs/m3 este granulado é produzido a partir dos restos de cortiça. O seu valor de mercado é bem mais contido comparativamente à cortiça nobre e pode ser adicionado na maioria das argamassas naturais.
A adição do granulado de cortiça nas argamassas em proporções adequadas melhora de forma muito significativa a térmica e a acústica dos edifícios. Por outro lado, aparentemente os rebocos com cortiça adicionada são menos rígidos e podem assim ser mais tolerantes às movimentações dos substractos.
Mas há mais! Para além das vantagens já enunciadas, há outras características muito interesantes no uso da cortiça nas argamassas:
- A Leveza - A cortiça é efectivamente muito leve (0,16 grama por centímetro cúbico) o que convém muito bem para não subcaregar os paramentos dos edifícios sustentáveis.
- Flexibilidade - A cortiça ao ser comprimida num dos lados não aumenta de volume no outro. Adapta-se por isso com facilidade às variações térmica, pressões e contrapressões fisicas. A introdução de particulas de cortiça nos revestimentos de paramentos aumenta a ductilidade dos rebocos, aumentando assim a durabilidade do "casamento" reboco/paramento.
- Impermeabilidade - Graças à suberina e ceroides (espécies de cera) a cortiça é praticamente impermeável a liquídos e gases.
- Imputrecível - A cortiça resiste muito bem à humidade, pelo que não oxida nem apodrece com facilidade.
- Isolamento - A cortiça é um excelente isolante, térmico, acústico e mecânico. Este é talvez a característica mais importante na construção. A melhoria térmica e acústica nos revestimentos com cortiça adicionada é muito significativa, mas a capacidade de absorção de vibrações mecânicas é também uma característica muito interessante.
- Reciclavel / Renovável - A cortiça é matéria totalmente natural e reciclavel. 100% biodegradável.